quinta-feira, 23 de setembro de 2010

UTI


 ANDÁVAMOS NA AREIA DE MÃOS DADAS,
OUTRAS VEZES PARECIA QUE ANDÁVAMOS NAS NUVENS,
DE TANTA FELICIDADE...
E A FELICIDADE ERA TANTA, QUE
ME BELISCAVA PARA VER SE ERA REAL.
AS HORAS NÃO PASSAVAM, E
NÃO ACHÁVAMOS RUIM.
O IMPORTANTE MESMO, É QUE ESTÁVAMOS JUNTOS.
O CÉU ORA ESTAVA RUBRO, ORA ESTAVA AZUL,MAS
O IMPORTANTE É QUE ESTÁVAMOS JUNTOS.
EU OUVIA LONGE...MUITO LONGE... SUSSURROS,
CHOROS...SIRENES...
MAS ESTAVA MUITO LONGE, E NÃO ME PREOCUPAVA.
AS VEZES, NÓS NOS ENTRELAÇÁVAMOS, E
PARECÍAMOS UM...
ENTÃO TODA AQUELA IMAGEM DE PARAÍSO FOI SUMINDO,
COMO UMA FUMAÇA...
COMO UMA NUVEM SE DISSOLVENDO.
AGARREI SUA MÃO, MAS NÃO CONSEGUI!
VOCÊ SUMIU, OU FUI EU QUE SUMI.
OUVI ALGUÉM SUSSURRAR, VOLTOU, CHAMEM O MÉDICO...
FOI UMA CORRERIA E
NO MEIO DE ALGUMA ALEGRIA
EU SENTIA UMA TRISTEZA NO AR,
EU QUERIA VOLTAR,
NÃO CONSEGUIA MAIS VER SEU ROSTO, SEU CABELO,
SEUS OLHOS, SEU SORRISO...
EU QUERIA VER VOCÊ,
MAIS UMA VEZ,
SÓ MAIS UMA VEZ.
MAS,
ACORDEI!
LIA MELQUIDES

sábado, 18 de setembro de 2010

Meus oito anos


 








MEUS OITO ANOS

CASIMIRO DE ABREU
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu Academia Brasileira de Letras
Nome completoCasimiro José Marques de Abreu
Nascimento4 de janeiro de 1839
Capivary
Morte18 de outubro de 1860 (21 anos)
Nova Friburgo
Nacionalidade Brasileiro
OcupaçãoPoeta
Escola/tradiçãoRomantismo



Biografia

Foi filho do abastado comerciante e fazendeiro português José Joaquim Marques de Abreu e de Luísa Joaquina das Neves, uma fazendeira de Capivary, viúva do primeiro casamento. Com José Joaquim ela teve três filhos, embora nunca tenham sido oficialmente casados. Casimiro nasceu na Fazenda da Prata, em Capivary (Silva Jardim), propriedade herdada por sua mãe em decorrência da morte do seu primeiro marido, de quem não teve filhos.
A localidade onde viveu parte de sua vida, Barra de São João, é hoje distrito do município que leva seu nome, e também chamada "Casimirana", em sua homenagem. Recebeu apenas a instrução primária no Instituto Freeze, dos onze aos treze anos, em Nova Friburgo, então cidade de maior porte da região serrana do estado do Rio de Janeiro, e para onde convergiam, à época, os adolescentes induzidos pelos pais a se aplicarem aos estudos.
Aos treze anos transferiu-se para o Rio de Janeiro para trabalhar com o pai no comércio. Com ele, embarcou para Portugal em 1853, onde entrou em contato com o meio intelectual e escreveu a maior parte de sua obra. O seu sentimento nativista e as saudades da família escreve: "estando a minha casa à hora da refeição, pareceu-me escutar risadas infantis da minha mana pequena. As lágrimas brotavam e fiz os primeiros versos de minha vida, que teve o título de Ave Maria".
Em Lisboa, foi representado seu drama Camões e o Jau em 1856, que foi publicado logo depois.
Litografia de Casimiro de Abreu em rótulo de cigarro.
Seus versos mais famosos do poema Meus oito anos: Oh! Que saudades que tenho/da aurora da minha vida,/ da minha infância querida/que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores,/naquelas tardes fagueiras,/ à sombra das bananeiras,/ debaixo dos laranjais!
Em 1857 retornou ao Brasil para trabalhar no armazém de seu pai. Isso, no entanto, não o afastou da vida boêmia. Escreveu para alguns jornais e fez amizade com Machado de Assis. Escolhido para a recém fundada Academia Brasileira de Letras, tornou-se patrono da cadeira número seis.
Tuberculoso, retirou-se para a fazenda de seu pai, Indaiaçu, hoje sede do município que recebeu o nome do poeta, onde inutilmente buscou uma recuperação do estado de saúde, vindo ali a falecer. Foi sepultado conforme seu desejo em Barra de São João, estando sua lápide no cemitério da secular Capela de São João Batista, junto ao túmulo de seu pai. Em 1859 editou as suas poesias reunidas sob o título dePrimaveras.
Espontâneo e ingênuo, de linguagem simples, tornou-se um dos poetas mais populares do Romantismo no Brasil. Seu sucesso literário, no entanto, deu-se somente depois de sua morte, com numerosas edições de seus poemas, tanto no Brasil, quanto em Portugal. Deixou uma obra cujos temas abordavam a casa paterna, a saudade da terra natal, e o amor (mas este tratado sem a complexidade e a profundidade tão caras a outros poetas românticos). A despeito da popularidade alcançada pelos livros do poeta, sua mãe, e herdeira necessária, morreu em 1859 na mais absoluta pobreza, não tendo recebido um tostão sequer em termos de direitos autorais, fossem do Brasil, fossem de Portugal.


Principais Obras

Poesias

  • Primaveras (1859)

Teatro

  • Camões e o Jau (1856)

 http://pt.wikipedia.org/wiki/Casimiro_de_Abreu
http://www.infoescola.com/livros/meus-oito-anos/

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os sapos

Os Sapos
MANUEL BANDEIRA
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...


 

                                                      Emiliano Di Cavalcanti
                                                      Manuel Bandeira, 1922
                                                      Nanquim s/ papel
                                                      15,8 x 11,7 cm
                                                      Doação MAMSP

"Os Sapos" é um poema escrito por Manuel Bandeira, em 1918, e publicado em 1919. Destaca-se em sua obra por ter sido declamado por Ronald de Carvalho durante a Semana de Arte Moderna de 1922, evento de que Bandeira não participa, efetivamente. Ronald de Carvalho, em meio a vaias do público, lê o poema, que é uma sátira ao Parnasianismo, corrente estilística da época. Manuel Bandeira joga com as palavras à maneira dos parnasianos, colocando pontos essenciais e características importantes defendidas e cultuadas por eles; isto é: sonoridade, métrica regular etc. Repare na sonoridade em Os sapos, Manuel Bandeira, e em Via Láctea, de Olavo Bilac.



Biografia, obras e estilo literário 
Este notável poeta do modernismo brasileiro nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1886.  Teve seu talento evidenciado desde cedo quando já se destacava nos estudos.
Durante o período em que cursava a Faculdade Politécnica em São Paulo, Bandeira precisou deixar os estudos para ir à Suíça na busca de tratamento para sua tuberculose. Após sua recuperação, ele retornou ao Brasil e publicou seu primeiro livro de versos, Cinza das Horas, no ano de 1917; porém, devido à influência simbolista, esta obra não teve grande destaque. 
Dois anos mais tarde este talentoso escritor agradou muito ao escrever Carnaval, onde já mostrava suas tendências modernistas. Posteriormente, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, descartando de vez o lirismo bem comportado. Passou a abordar temas com mais encanto, sendo que muitos deles tinham foco nas recordações de infância. 
Além de poeta, Manuel Bandeira exerceu também outras atividades: jornalista, redator de crônicas, tradutor, integrante da Academia Brasileira de Letras e também professor de História da Literatura no Colégio Pedro II e de Literatura Hispano-Americana na faculdade do Brasil, Rio de Janeiro. 
Este, que foi um dos nomes mais importantes do modernismo no Brasil, faleceu no ano 1968.
Suas obras: 
POESIA: Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924), Libertinagem (1930), Estrela da manhã (1936), Poesias escolhidas (1937), Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais Lira dos cinqüenta anos (1940), Poesias completas, 4a edição, acrescida de Belo belo (1948), Poesias completas, 6a edição, acrescida de Opus 10 (1954), Poemas traduzidos (1945), Mafuá do malungo, versos de circunstância (1948), Obras poéticas (1956), 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955), Alumbramentos (1960), Estrela da tarde (1960). 
PROSA: Crônicas da província do Brasil (1936), Guia de Ouro Preto (1938), Noções de história das literaturas (1940), Autoria das Cartas chilenas, separata da Revista do Brasil (1940), Apresentação da poesia brasileira (1946), Literatura hispano-americana (1949), Gonçalves Dias, biografia (1952), Itinerário de Pasárgada (1954), De poetas e de poesia (1954), A flauta de papel (1957), Prosa, reunindo obras anteriores e mais Ensaios literários, Crítica de Artes e Epistolário (1958), Andorinha, andorinha, crônicas (1966), Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966), Colóquio unilateralmente sentimental, crônica (1968). 
ANTOLOGIAS: Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937), Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana (1938), Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os Sonetos completos e Poemas escolhidos de Antero de Quental, as Obras poéticas de Gonçalves Dias (1944), as Rimas de José Albano (1948) e, de Mário de Andrade, Cartas a Manuel Bandeira (1958).  



Texto da poesia "Os Sapos":
Bandeira, Manuel 1886 - 1968. 
Antologia Poética. Rio de Janeiro: J. Olympo, 1976, 8a. Ed., p. 24.

http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/educativo/acerto3.html
http://www.suapesquisa.com/biografias/manuelbandeira/
http://www.youtube.com/watch?v=Bw8FawQ1zmc

Vou-me embora pra Pasárgada



Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira 

 Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu em Recife (PE) em 1886. Depois de morar no Rio, em Santos e em São Paulo, a família regressou ao Recife, onde permaneceu por mais algum tempo. A nova mudança para o Rio levou o menino a ser matriculado no colégio Pedro II. Com 17 anos, Manuel Bandeira foi para São Paulo, a fim de ingressar na Escola Politécnica, mas já no ano seguinte (1904) ficou tuberculoso. Abandonou os estudos, passando temporadas em várias outras cidades, de clima mais propício ao seu estado de saúde. Em 1913 partiu para a Suíça em busca de tratamento. Regressou no ano seguinte, pois estava começando a Primeira Guerra Mundial. Em 1917 publicou seu primeiro livro: A Cinza das Horas.
Conheça a Biografia de Manuel Bandeira 




Texto extraído do livro "
Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".
http://www.culturabrasil.org/bandeira.htm